sexta-feira, 28 de abril de 2006

La pianiste - 2001 - França.


Erika Kahut (Isabelle Huppert) é uma respeitada professora de piano que esconde por trás dessa nobre arte os mais ávidos desejos eróticos. Dirigido por Michael Haneke, “La pianiste” é uma belíssima obra onde a arte, fruto austero da faculdade racional, se vê em disputa de fronteira com o desejo e o instinto.

Até que ponto pode uma pessoa esconder, ou mascarar seus desejos reprimidos? Até que ponto pode uma pessoa esconder dentro de si suas mais secretas vontades? Érika mora com a mãe, uma espécie de “super-ego freudiano ambulante” que impõe horários, vestiário e controla as finanças de sua filha. Érika conhece Walter Klemmer (Benoît Magimel), um jovem que se apaixona inocentemente pela imagem de “uma recatada professora de piano”. Como seu aluno, Walter se declara, mas Érika o repreende.

Abordada pelo jovem dentro de um banheiro durante uma apresentação num teatro, Érika, pela primeira vez, decepciona o jovem aprendiz, que aspirado por ideais românticos, vê Érika se rebaixando à situações grotescas de satisfação sexual.

De fato, Walter quando se vê apaixonado por sua professora de piano, Érika, idealiza uma mulher que não existe. A Érika que se revela a Walter o deixa cada vez mais decepcionado, vendo e sentindo a decadência da "imagem de mulher" que havia antes idealizado. Se Walter se apaixonou por uma mulher, ele se apaixonou por uma sombra, que quando posta à luz, não correspondia ao objeto de sua paixão.

Confira o Trailler:

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Crianças invisíveis - 2005

As crianças acham tudo em nada,
os homens não acham nada em tudo
Leopardi , Giacomo

Emocionante! Os sete curtas que compõe o documentário são de altíssima qualidade. Podemos notar diferentes tendências cinematográficas de acordo com as condições regionais, econômicas e de formação de cada diretor.

Acho que emoções como as que senti eu nunca havia experimentado igual. Enquanto via o curta de Spike Lee, me percebi de boca aberta e as pupilas paralisadas, e por isso me espantei muito mais comigo e minhas reações frente ao drama, é impossível não se sensibilizar com o fato retratado de uma criança com o vírus da AIDS. Quando achava que o melhor já havia passado, John Woo me surpreende com “Song song and little cat” (o curta de John Woo é marcante), do meu ponto de vista John Woo superou a todos e a si mesmo, embora fosse um curta e por isso tinha um tempo limitado, a história poderia dar origem a um filme. (a última vez que chorei rios de lágrimas num cinema foi quando eu tinha sete anos e via o Rei Leão, aliás chorar no cinema é bom, é sinal de que somos “animais”, melhor do que isso, “bons animais”). Faltam palavras para descrever o peso valorativo desse curta, é chocante... É indescritível... A pergunta que eu me fazia o tempo todo era se histórias como as que John Woo retratou eram possíveis, se elas aconteciam na realidade, pois são tão tristes e com personagens tão divinos (acho ser esse o adjetivo ideal para a “pequena gatinha”) que parecem ser objetos exclusivos de ficção. O curta de Woo será, definitivamente, um marco nas minhas emoções.

A pergunta que me fazia, se essas coisas são reais, serve como uma boa explicação para o título do documento. Histórias assim como “Ciro”, “Jonathan”, "Bilu e João”, “Song song e little cat” e todas as outras, mais do que podemos imaginar, acontecem na realidade, e se essas crianças são “invisíveis” é porque, simplesmente, elas são tão inocentes e nós somos tão culpados.


Veja um curta da mostra:

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Efeito Borboleta. EUA / 2004

"Dê-nos os bens, quer os peçamos ou não,
e afasta de nós os males mesmo que os peçamos.
Esta oração parece bela e segura.
Se nela encontra algo a censurar, não o escondas."
(Platão)
O que somos nós agora? Quais são as coisas que, agora, nos rodeiam? Por que elas são assim e não de outro modo? O filme "Efeito borboleta" dirigido por Eric Bress e J. Mackye Gruber nos ajudam a refletir sobre essas questões.

Evan ( Ashton Kutcher) é um jovem que herda uma estranha doença de seu pai; sua memória é apagada em momentos de grande estresse psíquico. Esse fato lhe causa muito constragimento pois ele tem importantes momentos de sua vida sem rastros nas lembranças.

Orientado por um psiquiatra para cotidianamente redigir um diário, Evan faz anotações de tudo aquilo que tem lembranças durante sua juventude. Quando chega à faculdade, Evan, por "ordem do acaso", pega seus antigos diários e começa à folheá-los. Num momento em que ele lê uma passagem que o remete à um momento de sua vida que está no seu inconsciente, Evan volta mentalmente àquele tempo, àquele período, e ganha de volta sua autonomia. Isso significa que Evan pode tomar uma decisão diferente da qual tomou no passado. Quando volta ao tempo atual, Evan percebe que uma pequena mudança no passado transforma radicalmente sua vida presente. Descontente com as mudanças ocorridas, o protagonista volta outras vezes às zonas sombrias de seu inconsciente, mas as conseqüências são cada vez mais desagradáveis, seja com ele próprio, seja para com as pessoas que ele ama.

Já dizia Leibniz que o presente está prenhe do futuro”. Todas as nossas decisões, ações, significações e omissões geram incontestavelmente nosso futuro, ou digamos, nosso presente de amanhã. Se agora “eu” sou de tal modo e tenho tais coisas ao meu redor, isso se deve a uma cadeia de causas que tiveram “eu” como origem. Foi livremente que “eu” constitui o “eu”de hoje, como é livremente que “eu” constituirei o “eu” de amanhã.

Assita o Trailler:


quarta-feira, 19 de abril de 2006

A dama de Honra. França/ Alemanha/ Itália, 2004

Nossos atos são nossos anjos bons e maus,
sombras fatais que caminham ao nosso lado.
(Beaumont e Fletcher)

Philippe (Benoît Magimel) é um jovem francês de 25 anos que mora com a mãe e as irmãs mais novas em um bairro tranqüilo. Ele acaba de arrumar um emprego no ramo imobiliário. No casamento de uma das irmãs, a dama de honra, Senta (Laura Smet), chama sua atenção à primeira vez. “Quando te vi, sabia que você era meu”. São essas as palavras de Senta a Philippe que da lucidez de um espírito perspicaz migra maquinalmente à penumbra de uma paixão doentia.


Dirigido por Claude Chabrol, o longa mostra a história de uma mulher que invadida por um narcisismo nada convencional seduz Philippe para se reafirmar em si. Os mistérios que rondam a vida de Senta, que tem como nome verdadeiro Stephanie, não diminuem o interesse de Philippe por ela. Esses mistérios refletem um desvio de conduta de Senta, revelando no final como negação de um passado irrefletido, como se cada nome que ela adotasse, de tempos em tempos, fosse uma pessoa diferente que vivesse em sua pele, com uma história distinta da sua.


O pedido de uma prova de amor por Senta assusta Philippe que se aproveita do acaso para dizer ter provado seu amor, mas Senta, para provar seu amor à Philippe mata um inconveniente conhecido da família do rapaz. Consumado o crime Philippe exita de se reencontrar com Senta, mas invadido por um idealismo romântico diz deitado na cama com Senta que jamais a abandonará ao entrar da polícia em cena.


sexta-feira, 7 de abril de 2006

Soneto I - Agora


O que é o agora?
O passado que pasou
O futuro que há de vir
Um fluxo inseparável
Desespero inconsolado
Desamparo amedrontado

Ah, se soubesse porque vim
Se soubesse o que sou
Porque estou aqui
Aonde ei de ir
Caminho desencontrado
Encontro descaminhado

O motivo para sorrir
É o mesmo para chorar
Aquele já se passou
E este insiste em ficar


Compús este soneto na beira da lagoa do Parque do Iberapuera quando não me restava nada mais do que vãs reflexões da contingência "demoníaca", digamos assim, do mundo. A contingência realmente me assusta, pois me sinto tão impotente diante dela.