terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Bolhas de sabão...

Jean Batiste Chardin
Bolhas de sabão - 1734

Muitas coisas na nossa vida são como bolhas de sabão, temos tanto carinho em fazê-las, gozamos quando elas se soltam livres no ar, mas por sua própria e frágil natureza, elas padecem, voltam ao nada que as gerou.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Ou isto ou aquilo

Acho que este poema é uma boa ilustração ao post anterior.


Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecilia Meireles

Representações subjetivas


Que imagem temos de nós mesmos? Será que não vivemos representando tal qual atores num teatro? Quem somos nós atrás de nossa aparência? Essas questões me vem incomodando já faz algum tempo. Será que somos simplesmente aqueles que representamos ser? E se escolhêssemos ser outra imagem, outra representação? O problema parece se complicar. A contingência da representação que fazemos de nós mesmos nos remete á uma liberdade irrestrita, quero dizer, a imagem que temos de nós se vincula exclusivamente á nossa liberdade.

Não quero parecer com essas palavras um idealista. Não estou dizendo que escolhemos livremente nascer em tal lugar, ser homem ou mulher, negro ou índio, essas coisas são o dado bruto, a manifestação da contingência dos fatos, a facticidade. Em verdade, não pode haver liberdade sem a facticidade. É ela que nos dá a escolha. Entendo liberdade como a autonomia do sujeito em fazer escolhas, exercer a liberdade é escolher entre alternativas. Não faz sentido dizer que não somos livres para voar como os pássaros, exatamente porque para o homem não existe essa alternativa. Liberdade envolve escolha, escolha envolve alternativas que só se manifestam na facticidade. Para ser livre preciso estar situado num ponto restrito da história, numa classe social, num círculo de pessoas, pertencer á uma etnia e assim por diante. Se digo que nasci homem, em tal país, em determinada família, não está ao meu alcance mudar isso, nunca esteve, mas é minha liberdade que me faz representar tal situação como eu a represento, dando seu valor e atribuindo seu sentido. O dado em-si não possui sentido algum, o sentido advém de uma escolha livre, uma atribuição subjetiva de significado. Por exemplo, um homem desempregado pode representar tal situação de numerosas maneiras. Uma delas é resignando-se, aceitando como um cristão a sua “cruz” e vivendo no sacrifício em nome da salvação, ou, revoltando-se contra a sociedade e roubando para alimentar seus filhos. As duas opções são possíveis, além de muitas outras, mas somente a liberdade de cada sujeito que o permitiu representar a dar significado a sua situação ao seu modo.

Posso ser objetado dizendo-se que a religiosidade do cristão ou a revolta do outro é motivada por uma influencia familiar, social, emocional, mas digo que em todos os momentos o sujeito representa sua situação livremente, e isso remete a uma escala infinita, digamos assim, de escolhas livres. O ser humano não é influenciado por nenhuma série determinista, nem por si mesmo. É a pura contingência de sua liberdade que o constitui e o encaminha à busca de si.


Antonio Felipe Silva

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Verdade


Toda verdade ultrapassa três etapas: Primeiro ela é ridicularizada, em seguida, ela sofre uma forte oposição, depois é considerada como tendo sido em todos os tempos uma evidência.

Arthur Shopenhauer

Onde foi que eu errei?


Quando nos perguntamos “onde foi que eu errei?”, dificilmente achamos a resposta. Geralmente, e digo com segurança, os grandes erros estão sempre no início de tudo, nas bases daquilo que empreendemos. O que fazer então? É certo que um pequeno erro no princípio gera um erro inconcertável no final. Aí temos que mudar enquanto há tempo. Mudar o rumo. Destruir tudo e começar do zero.

Para mim chegou o momento de começar tudo novamente a partir dos alicerces. Derrubar todas as coisas que até agora construí que só me causam prejuízos (infelizmente não posso fazer isso com tudo... teria que nascer de novo). Acho que terei que jogar muitos sonhos na lata do lixo. Pode parecer triste, mas é o correto a se fazer quando o objeto de seus sonhos é uma quimera, uma contradição... É um desafio. O comodismo e o cotidiano, cada qual ao seu modo, me arrastam lentamente a reassumir a antiga postura. Eles me induzem a permanecer no desprazer e na ilusão. Paralisam minha ação e me fazem imaginar ser aquele que não cabe mais a mim.

É sempre muito difícil o começo, principalmente quando se trata de um segundo começo, um recomeço. Olho em minha volta e só vejo escombros. Esses escombros me envolvem e preciso me levantar do chão e ajuntar os pedaços dos meus sonhos, projetos e desejos para limpar terreno e recomeçar.

Ainda não respondi a pergunta “onde foi que eu errei?”. Acho que não posso responder, efetivamente não sei, principalmente porque só tive as melhores intenções... Mas o fato de não ter dado certo evidencia que eu errei em algum lugar, mas não sei onde. Agora, preciso levantar do chão sozinho e tentar recomeçar tudo...

Antonio Felipe Silva