sexta-feira, 27 de outubro de 2006

The Unbearable Lightness of Being. Dir. Philip Kaufman. 1988.

Inspirado no livro “The Unbearable Lightness of Being ”, lançado em 1984 pelo escritor Milan Kundera , o diretor Philip Kaufman, produz para o cinema, em 1988, uma maravilhosa obra de arte com talentosos atores:Juliette Binoche, Daniel Day-Lewis e Lena Olin

Escolhas, medo e angústia. Num mundo onde a realidade está completamente sensível ao nosso poder de fazer livremente escolhas e nosso vir-a-ser cada vez mais solúvel em nós mesmos, a realidade, com uma capacidade devoradora, lança Tereza (Juliette Binoche) num oceano de angústia e insegurança. Tereza está loucamente apaixonada por Tomas (Daniel Day-Lewis), um médico que com estrema facilidade, talvez por hábito do ofício, diz para todas as mulheres que cruzam seu caminho: Take off your clothes. Por ele Tereza larga toda sua vida, sua família e seu trabalho e vai a procura de Tomas, batendo na porta de seu apartamento e entregando-se completamente.

O contraste entre a leveza com que Tomas leva a sua vida, de forma descomprometida e libidinosa e o comportamento de Tereza com sua forma infantil de buscar alguma segurança e algo de sólido na vida fazem do filme um palco de tensões opostas. Tereza sente inveja de Tomas, gostaria, no fundo de sua alma ser como ele, mas não consegue. Tomas, apesar de tudo, ama Tereza, mas não consegue deixá-la segura disso.

A leveza da liberdade, sua facilidade e a variedade de opções que ela coloca no caminho de todo homem abrem um leque tão extenso e, ao mesmo tempo, irreversível, que a vida se torna pesada e se não sabemos lidar bem com isso somos abatidos pela angústia e atormentados pelo medo e insegurança.

domingo, 15 de outubro de 2006

Odisséia de filmes Espaço Unibanco - 07/10/2006

Uma noite de sexta-feira chuvosa. Sono e cansaço não foram o bastante para derrubar meu ânimo. Do outro lado do fronte desta guerra, a guerra para me fazer dormir, estava o interesse por três filmes fantásticos. Não havia linha alguma que os ligavam. Eram completamente independentes um do outro. Talvez, uma linha que possivelmente poderia os ligar é o aumento do grau de dramaticidade.

O primeiro foi uma animação, Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll (2006), onde os personagens de Angeli cansados de um mundo materialista e cada vez mais entregue ao individualismo tomam a iniciativa de lançar uma banda de Rock. Gordos e carecas não fazem tanto sucesso como gostariam e começam a contradizer seus ideais.




O segundo filme foi Les Chevaliers Du Ciel (2005), do diretor francês Gérard Pirès. A trama consistia em operações secretas no interior da Força aérea francesa. Muita ação e mulheres bonitas. É bom para prender a atenção e não fazer dormir, pois já era 3:00 da manhã.





O terceiro filme, esse sim, foi muito interessante, Crónica de una Fuga (2006) do diretor uruguaio Adrián Caetano. O filme consiste em mostrar a ditadura das décadas de 60/70 na Argentina em que uma mansão é controlada por oficiais da polícia para prender, torturar e executar presos políticos. É um filme extremamente chocante que nos faz refletir sobre virtudes como lealdade, justiça e coragem.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Da esperança ao desespero: Dilemas de uma democracia inacabada.

Em 2002, na campanha para a presidência da república, o slogan da campanha do presidente Lula era “A esperança vencerá o medo”. A esperança era prefigurada na idéia de mudança, na idéia do novo, no entanto, ao mesmo tempo, essas mesmas idéias geravam em si o medo. Na figura de Lula, o candidato da oposição, era sinalizada a mudança que geravam duas paixões simetricamente opostas no eleitorado, uns eram tomados pelo medo do pior e outros pela esperança do melhor. O fato ocorrido é que da oscilação entre o medo e a esperança no cenário eleitoral brasileiro da campanha de 2002 a esperança venceu.

A esperança venceu há quatro anos através da confiança do povo depositada na eleição do presidente Lula, mas agora, podemos dizer que na melhor das hipóteses, sendo muito otimistas, parece que os brasileiros terão que esperar ainda mais sem, ao menos agora, vislumbrar rastros de mudanças legítimas e realmente significativas. A mudança esperada e pela qual Lula foi eleito não ocorreu de fato. Pelo contrário, Lula ajudou a reforçar a estrutura contra-democrática do Estado brasileiro, mantendo o arcabouço da centralização do poder em que todas as estruturas de políticas públicas, de legalidade e de tributos são mantidas de forma autoritária ainda num molde do Brasil imperial que só as oligarquias favorece. Houve no governo Lula atos medicativos, quase que exclusivamente emergenciais, mas não mudanças as quais tínhamos esperança que ocorressem. Ao contrário, o fato de um partido de esquerda ter chegado ao poder foi possibilitado pelo agenciamento de alianças partidárias bizarras que, como um efeito, gerou um quadro corruptivo não muito diferente de governos passados, reforçando ainda mais a opinião de que mudança alguma ocorreu com a eleição de Lula.

Hoje um desespero irrequieto toma o lugar da esperança de quatro anos atrás. Temos nesse segundo turno que eleger o “menos pior”. É desesperador que o debate do “ruim” contra o “menos mal” fique restrito a acusações, a dossiês, a vestidos de grife, a maletas e cuecas de dinheiro. Cada candidato se preocupa em dar mais razões pelas quais o outro, seu adversário político, não deve ser eleito, razões pelas quais ele não deve chegar ou se manter no poder. Ora, que democracia é essa? A democracia pressupõe liberdade para com ela escolher um candidato pelas suas convicções e não, tão somente, pela falta de opção. Qual a convicção de Lula? E de Alkimin? A palavra mais repetida durante toda a campanha foi “Ética”, utilizada por ambos os lados. Essa palavra foi tão usada que ironicamente se corrompeu e ficou vazia de significação. O que é ética? Qual dos dois candidatos sabe o que essa palavra realmente significa?

A situação se torna ainda mais desesperadora quando olhamos o perfil de alguns dos deputados federais mais votados nesse ano. Maluf, Clodovil, Celso Russomano, Éneias Carneiro e Frank Aguiar! Sem contar alguns figurões intimamente ligados aos fatos recentes de corrupção. O que isso significa? O que devemos esperar desse cenário desesperador da política brasileira?

Este post foi postado tambem no blog "A voz do povo"