quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Flags Of Our Fathers. Dir. Clint Eastwood. 2006



"Flags Of Our Fathers” é um filme que trabalha a distância entre aqueles que estão dentro da guerra e aqueles que a acompanham através dos noticiários. Uma foto tirada ao acaso durante a conquista Norte-Americana da ilha japonesa de Iwo Jima se transforma em símbolo de vitória e sucesso da empresa bélica americana. Os integrantes da célebre foto são erguidos pelo governo e pela mídia americana ao pedestal de heróis nacionais, mas para eles, não há nada de heróico em “escapar de alguns tiros e ver todo o absurdo de uma batalha”.

O diretor Clint Eastwood não tem receio em mostrar que a foto em questão não tem valor histórico algum, mas foi apenas uma troca de bandeira numa zona do conflito de pouca importância tirada por um soldado qualquer ao acaso. Na realidade, muitos daqueles que figuram na foto morreram instantes depois da foto ser tirada. No entanto, era importante ao governo americano que os “heróis da foto” estivessem vivos para trabalharem nas campanhas publicitárias pedindo a compra de ações para financiar a guerra, através da comoção com os que morreram e do estabelecimento do orgulho nacional. De uma forma nada honrosa o governo americano mendiga doações para tapar o rombo nos cofres públicos diante de uma população já cansada da Guerra.

Flags Of Our Fathers” faz parte de um gigantesco projeto cinematográfico que se completa com o filme “Letters from Iwo Jima”, que Eastwood dirigiu e gravou simultaneamente, mas este último baseado no ponto de vista nipônico do conflito. Diante de um ponto de vista total deste projeto podemos perceber claramente que sob um mesmo momento histórico, uma mesma batalha, se desenrolam histórias muito distintas do ponto de vista daquilo que é considerado a própria honra. Num filme, do lado japonês, vemos o que acontece nos túneis da montanha, no outro, do lado americano, vemos aqueles que sobem a montanha.

Se de um lado acompanhamos o investimento norte americano de ganhar a guerra através da propaganda. Do outro vemos japoneses em defesa do futuro de suas famílias e cultura. Quando as câmeras focalizam apenas o front de batalha fica impossível reconhecer um inimigo, distinguir quem é bom de quem é mau, mas apenas pessoas que lutam cegamente por uma razão que não é a delas.

Bom, finalizando, penso que os dois filmes podem existir separados, e embora formem um paralelo perfeito, uma espécie de negativo um do outro, são suficientes em si mesmos. Mas aconselho a ver os dois, e talvez na ordem que eu vi: Primeiro “Letters From Iwo Jima” e depois “Flags Of Our Fathers”. Mas com certeza absoluta “Letters From Iwo Jima” é um filme muito melhor, embora tenha sido feito por Eastwood um pouco no improviso e na sombra do primeiro.

Veja o Trailer:

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Letters From Iwo Jima. Dir. Clint Eastwood. 2006.



Existem muitos filmes sobre guerras e batalhas históricas no cinema, mas poucos são realmente bons. “Letters From Iwo Jima” entra nesse seleto grupo. É no mínimo muito curioso que um diretor hollywoodiano, Clint Eastwood, faça num mesmo ano dois filmes sobre um mesmo fato histórico: A Segunda Grande Guerra. O primeiro filme é “A Conquista da Honra” (Flags of Our Fathers - 2006) – Ainda não tive oportunidade de assistir. A diferença entre os dois é o ponto de vista durante a guerra. O primeiro, “Flags of Our Fathers”, aborda a Guerra do ponto de vista americano, enquanto o segundo, “Letters From Iwo Jima”, sustenta o ponto de vista japonês do conflito. É interessante saber que os dois filmes foram rodados simultaneamente pelo mesmo diretor, com o cuidado que nenhum integrante de um elenco apareça nos dois filmes acidentalmente.

Letters From Iwo Jima” é uma adaptação baseada num livro escrito por James Bradley sobre o dramático conflito de 40 dias na ilha japonesa considerada pelo Império japonês o último reduto de resistência no pacífico. A conquista da ilha de Iwo Jima garantiria aos Estados Unidos a rendição de seu adversário. O drama consiste em mostrar a situação precária, mas corajosa, do exército imperial japonês. Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe) é um respeitado estrategista japonês incumbido de gerenciar o exército imperial para o conflito. Conhecendo o poderio tecnológico do inimigo, pois já estudou nos Estados Unidos, Kuribayashi direciona reformas estratégicas de defesa e supervisiona a construção de túneis nas montanhas que serviriam para desorientar os americanos que chegassem à ilha. Kuribayashi conhece a superioridade do exército inimigo e deve lidar com a escassez de munição, comida e água, além de um exército composto por integrantes despreparados e que por muitas vezes parecem não saber o que estão fazendo na ilha.

É interessante notar que apesar da consciência de todo o exército imperial japonês de que sobreviver era um sonho impossível, eles lutam até o último instante. As cartas que os combatentes da ilha escreveram para suas famílias, como forma de expressão nas noites de solidão bélica, dão voz e espírito aos soldados japoneses mortos na batalha.

Veja o Trailer:

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Little Children. Dir. Todd Field. 2006.

Um filme feito para incomodar , como todos produzidos pelo diretor Todd Field (Entre Quatro Paredes, 2001). Intenda-se isso na melhor acepção da palavra “incômodo”. Nós brasileiros tivemos a infelicidade de conhecer “Little Children” com o título de “Pecados Íntimos”, o que faz com que certas pessoas de pensamentos ortodoxos sintam uma natural repulsa em ver o filme. “Pecados Íntimos” é um título que faz sentido, no entanto, perde muito da significação que o título original traz, porque afinal, a grande sacada do filme é mostrar que as verdadeiras crianças não são aquelas que brincam na piscina pública, que balançam no playground ou vão à escola, mas aquelas que estão aprisionadas dentro dos adultos.

Longe do convencional formato dos tradicionais filmes americanos, “Little Children” lembra um pouco pela sua narrativa o filme “Beleza Americana” e seu conteúdo crítico nos remete ao filme “Closer”. É importante ressaltar estas semelhanças porque elas não são gratuitas. Elas fazem parte de um processo pelo qual o cinema contemporâneo está passando com significativas mudanças de paradigmas de forma e conteúdo que, particularmente, acho muito instigantes.

Um narrador onisciente diz o que passa nas profundezas da consciência de cada personagem, e com um tom bastante irônico faz críticas aos costumes e a hipocrisia da sociedade norte-americana. Uma pacata e arborizada cidade do interior recebe de volta um aliciador de menores liberto após cumprir legalmente sua pena, a cidade toda fica alerta com qualquer movimentação suspeita deste indivíduo. O filme retrata de forma bastante pontual a relação entre jovens pais e filhos, carrinhos de bebê, horário de lanche, diversão e escola. É tudo como se houvessem duas histórias paralelas, a das crianças, e a dos adultos e suas infantilidades. Sarah(Kate Winslet) é uma mãe jovem casada com Richard (Gregg Edelman),um viciado em pornografia na internet, e mãe da geniosa Lucy de três anos de idade. Cansada e frustrada com sua vida nada excitante, Sarah sente-se antiquada no contato com as outras mães que levam seus filhos para o playground, pois vê que não tem muitas qualidades como uma boa dona de casa deveria ter. Sarah sentindo-se atraída por Brad Adamson (Patrick Wilson), um jovem pai que mente para sua esposa quando diz que vai à biblioteca, vê um novo horizonte para sua vida. O que une o casal numa relação extra-conjugal é mais um apetite de mudança e transgressão da norma, pois ambos vêem incompatibilidade em seus papéis, do que apenas um desejo sexual.

A figura do adulto e a do infantil se confunde durante toda a trama. A cena, na minha opinião mais significativa, foi quando Sarah chora no colo de sua pequena filha pedindo desculpas após pegá-la para fugir com Brad. O diretor Todd Field intenta mostrar em seu filme de maneira bastante nítida o despreparo de uma geração em assumir responsabilidades inerentes a uma vida adulta, além de nos tocar viceralmente num ponto essencial para reflexão: Até que ponto um ser humano tem o direto de castrar seus impulsos?

“Little Children” não é um filme sobre crianças, ou melhor, é um filme sobre crianças muito peculiares que têm uma idade já nada infantil. Ainda digo mais, e isso digo por mim, parece inútil o homem tentar lutar contra seus desejos, pois é isso o que ele é em essência: Desejo. Este filme esclarece muito isso. Quanto mais o homem abandona o sentir em função do entender, mais longe de entender algo ele fica.


Veja o Trailer:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Lilja 4-ever. Dir. Lukas Moodysson. 2002.



Um filme do suéco Lukas Moodysson. Essa afirmação já dispensa muitos comentários. O mesmo diretor do instigante filme “Fucking Åmål” (1998), coloca nas telas mais uma vez um filme em que a adolescência e a sexualidade são os focos. Enquanto assistia ao filme pensei algo muito instantâneo: Se existe um cara que entende de mulher... Com certeza é Moodyson. Não me assustei tanto com o dogmatismo de meu pensamento, porque este fato é muito palpável para qualquer um que veja o filme, mas pela instantaneidade com que isso foi pensado por mim. Qualquer comentário que eu possa fazer não fica aos pés da representatividade deste filme.

A história é muito simples, mas o enfoque é realisticamente chocante e surpreendentemente emocionante. Em algum lugar da antiga União Soviética vive Lilya (Oksana Akinshina), uma menina de 16 anos de idade que foi abandonada pela mãe que foi aos Estados Unidos para viver com o namorado. Sozinha e num ambiente nada sugestivo para uma adolescente, Lilya conhece Volodya (Artyom Bogucharsky), um garoto bem mais novo do que ela por quem ela cria um forte laço de amizade, carinho e respeito. No entanto, a miséria do local onde Lilya mora e a falta de oportunidade profissional impulsionam ela para entrar na prostituição. Envolvida em seu meio de subsistência, Lilya conhece um jovem que aparentemente pode lhe propiciar uma nova vida. Este jovem estrangeiro de forma aparentemente desinteressada começa a seduzir Lilya inserindo sonhos em sua mente de vida melhor e trabalho na Suécia. Imbuída por esse desejo e completamente cega pela paixão Lilya aceita as ofertas de seu namorado. Ao chegar na Suécia é presa por um homem e obrigada a trabalhar como escrava sexual.

Bastante pesado e triste, este drama traz elementos muito visíveis para reflexão. Uma história que se repete centenas de vezes, basta olhar nos jornais. Embora não podemos ter certeza do que aconteceu com a mãe de Lilya, podemos imaginar que seu destino não deve ter sido mais feliz. Lilya mostra coragem para determinar-se a uma mudança de vida e se vê num momento seguinte frustrada com a mentira de quem amou. Tudo isso de forma muito real, sem romantismos desnecessários.

Moodysson não cai no clichê de apenas mostrar a imigração de pessoas do leste europeu em busca de uma nova vida. Trata-se de um filme bastante particular que mostra a vida de uma adolescente particular, num ambiente particular com seus problemas particulares. Se Lilya percebe que ali onde mora não pode ser feliz, pois está na miséria, abandonada pela família e pelos amigos, ela imagina que fora dali está a solução de seus problemas, mas infelizmente descobre que seus problemas podem estar em qualquer parte. Negando a fé e a esperança em entidades abstratas Moodysson retrata um drama que é em vários momentos repulsivo, mas marcante e emocionante. "Para Sempre Lilya" é um filme paradigmático, com uma história bem contada e muito bem fimada. Nunca vi aplaudirem um filme no cinema, mas nessa seção foi diferente, pois até eu pude aplaudi-lo.

Veja o Trailer:

domingo, 11 de fevereiro de 2007

The Ice Storm. Dir. Ang Lee. 1998.


Mudanças de pensamento e comportamento na vida privada de pessoas comuns. Na realidade é sempre muito problemático afirmar que haja algo de comum na vida de uma pessoa qualquer. Baseado no livro homônimo de Rick Moody, o filme “Tempestade de gelo” dirigido por Ang Lee tem o intuito de focalizar e identificar diferenças específicas na constituição de cada personalidade no interior da busca por alguma forma de padronização e enquadramento numa eventual normalidade.

Os acontecimentos têm como localização histórica a década de 70 acompanhada da onda liberalista crescente nos Estados Unidos. A família Hood enfrenta uma série de crises, a começar por Ben Hood (Kevin Kline) que enfrenta problemas de relacionamento com sua esposa, Elena Hood (Joan Allen), e tem um relacionamento constante com sua vizinha e amiga íntima da família, Janey Carver (Sigourney Weaver). Elena tenta dar pouca importância à infidelidade do marido se focando em outras prioridades, tais como o filho que vai para a faculdade, ou os próprios afazeres do lar.

Sem contar o “jogo” dos adultos, temos, por outro lado, a pré-adolescente Wendy (Christina Ricci), filha de Ben e Elena, que submersa em carências afetivas e na confusão da descoberta de sua sexualidade se lança num “jogo” de sedução com os irmãos Mikey Carver (Elijah Wood) e Sandy Carver (Adam Hann-Byrd), filhos de Janey. Mikey é um jovem intelectual apaixonado por matemática e ciência. Sandy, o irmão mais novo, passa a maior parte do seu tempo explodindo seus brinquedos no jardim. O irmão mais velho de Wendy, Paul (Tobey Maguire) se vê apaixonado por uma garota da faculdade que se mostra profundamente crítica e instigante, no entanto sente-se iludido ao perceber que ela tem hábitos nada convencionais.

É magistral a forma como Ang Lee conduz os personagens à luz no decorrer da trama. Uma luz que nunca é suficiente para iluminar toda a profundidade dos personagens, mas que apenas serve para mostrar que são complexos e insuficientes em si mesmos. Numa noite de forte tempestade os adultos vão para uma festa onde são levados a participarem do “jogo das chaves”. A única regra do jogo é que os homens coloquem a chave de seus veículos num vaso e as mulheres retiram uma a uma, o homem que tem sua chave retirada por uma dada mulher deve ir para o carro com ela. Paralelamente uma catástrofe acontece durante a tempestade. Esta é uma noite significativa para a família Wood que terá muitas coisas a que aprender.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Little Miss Sunshine. Dir. Jonathan Dayton. 2006.


Uma Kombi amarela e uma família muito longe da normalidade. Está certo que nenhuma família é normal... Mas os Hoovers “não dão para o cheiro”. O pai da família Hoover, Richard (Greg Kinnear), é um palestrante motivacional que descobriu os nove passos para alcançar a felicidade e o sucesso. Perfeccionista ao extremo, sua meta é vender seu programa de auto-ajuda para ganhar estabilidade financeira. A mãe, Sheryl (Toni Collette), guarda a sete chaves seu vício pelo tabaco. Frank (Steve Carell) é o tio, um acadêmico frustrado especialista no escritor francês Marcel Proust. Enfrentando problemas de correspondência amorosa num relacionamento gay, Frank tenta se matar e é encaminhado pelos médicos a ir morar com a família Hoover. O avô (Alan Arkin), um velho expulso do asilo por causa do consumo de heroína. Os Hoovers se completam com as crianças e seus sonhos improváveis. O primeiro é Dwayne (Paul Dano), um adolescente que fez voto de silêncio com a finalidade de entrar na força aérea. “Devoto” leitor de Nietzsche, sente ódio de sua família por ver a “fraqueza” e loucura de cada um de seus membros. Para finalizar temos Olive (Abigail Breslin), uma menina determinada a ser miss sunshine, mas que não abre mão de um sorvete.

A comédia começa por trazer à tela figuras muito originais, mas numa composição que ressalta uma certa desconexão, uma desarmonia, no entanto, são movidas por um único objetivo: realizar o desejo de Olive em participar do concurso de beleza “Little miss sunshine”. Com dificuldades econômicas, os Hoovers se lançam à estrada numa Kombi amarela enferrujada para cruzar grande parte dos Estados Unidos, do estado do Novo México até a Califórnia. O filme é composto por aquilo que chamamos de humor negro. A viajem dura três dias e todas as tragédias que ocorrem no caminho nos mata de rir, não por aquilo que elas são em si mesma, mas pelas novas situações em que cada figura da família se vê a cada instante.

As manias e os desajustes de cada integrante da família Hoover parecem ser muito pequenos quando se unem na realização do sonho de Olive. Eles se deparam com uma nova experiência, a da união. É bastante nítida a mudança de cada personagem no decorrer do filme, quando eles aprendem que o vencedor é aquele que não desiste de competir. Se a personagem Olive não foi Miss Sunshine, ainda há grande possibilidade de sua atriz, Abigail Breslin, receber um Oscar nesse ano. Ela foi impecável!

Site oficial do Filme

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Noitão HSBC - Vidas sem rumo.

Dez horas intensas dentro de um cinema. Tudo começou às 21:30h com "Pequena miss sunshine" que assisti com amigos. Logo após resolvi ficar para o Noitão HSBC com a pré-estréia do filme australiano "Candy" (2006). Em seguida uma surpresa, um dos mais belos filmes que já assisiti de um dos meus diretores favoritos, Lukas Moodysson, chamado "Lilja 4 - ever" (2002), e por fim, uma obra prima do conceituado diretor Ang Lee, "The ice storm" (1997). Saí do cinema com o nascer do Sol, às 06:30h da manhã... preciso dormir e neste Domingo preparo os quatro posts...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Stranger Than Fiction. Dir. Marc Foster. 2006


Harold Crick (Will Ferrell) é um homem sistemático. Sua vida é toda calculada... Seu tempo, seus passos, suas palavras, suas ações... Seu comportamento metódico lhe permite portar-se como espectador de sua própria vida. Auditor da receita federal, Harold Crick percebe numa manhã de quarta-feira uma voz que narra seu momento presente como se ele fosse personagem de um livro de ficção. O que num primeiro momento pode parecer que se trata de uma comédia fraca e com elementos surreais baratos, se revela no decorrer da narrativa um filme com elementos dramáticos relevantes para reflexão.

Saindo completamente da receita das comédias que mensalmente invadem os cinemas, o diretor Marc Forster aposta numa comédia muito original e indiscutivelmente inteligente. A vida metódica e previsível de Crick começa a mudar no momento em que seu relógio inexplicavelmente pára e ele é informado das horas por um estranho na rua para acertar seu relógio, mas o que Crick não esperava é que o horário informado está três minutos atrasado. Quando a voz oculta presume sua morte Harold Crick se desespera. Procurando ajuda de uma psicóloga é desacreditado de que seja possível que ele faça parte de uma narrativa e seu diagnóstico é esquizofrenia. Consciente de que este não é o seu problema Crick procura na faculdade um professor de Teoria Literária, Jules Hilbert (Dustin Hoffman) que decide ajudá-lo a identificar o tipo de história que ele está vivendo e qual o momento exato de sua morte previsto pela narradora.

Crick ciente de seu fim inevitável e natural decide viver a vida. Não conta mais seus passos, não é mais controlado pelo relógio e procura fazer atividades fora de seu hábito, deste modo consegue encontrar espaço em sua vida para uma paixão. A sistematização seguida por Crick na sua vida tornava-o autômato e com um destino fixo e inevitável. Sacar isso foi o grande progresso de Crick que pode a tempo dar mais tempo a si mesmo.

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sábado, 3 de fevereiro de 2007

Babel. Dir. Alejandro Iñárritu. 2006.


Um filme pós-moderno. Babel, filme dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu mostra de uma forma bastante original as conseqüências imanentes da globalização. Três histórias distintas, três fragmentos narrativos que compõem um drama em que uma arma de fogo é o ponto de convergência.

A primeira ponta da pirâmide está no Marrocos onde dois adolescentes camponeses recebem de seu pai um Rifle para matar chacais e proteger seu rebanho de cabras. Tomados pelo súbito de testar a nova aquisição da família os jovens pastores testam a potência da arma tomando por alvos os carros que passam na estrada. Atirando num ônibus de turismo eles atingem Susan (Cate Blanchett) casada com Richard (Brad Pitt) que ao ver sua esposa gravemente ferida faz o ônibus mudar seu rumo e parar num povoado até que uma condução os levem a um hospital.

Na segunda ponta da pirâmide está a mexicana Amélia (Adriana Barraza) que amavelmente cuida das crianças do casal. Imigrante ilegal que mora há dezesseis anos nos Estados Unidos da América. Amélia pretende cruzar a fronteira para ir num casamento da família, no entanto, sem alternativa quanto a deixar as crianças sob outros cuidados nos Estados Unidos, decide levá-las. Na volta as coisas se complicam na fronteira e ela e as duas crianças ficam perdidas no deserto após uma perigosa fuga.

A terceira ponta da pirâmide, e a mais distante, conhecemos Chieko (Rinko Kikuchi), uma jovem adolescente japonesa que perdeu a mãe num suicídio e parece rumar para o mesmo caminho. Surda e muda se lança numa saga para transar pela primeira vez. Seu pai Yasujiro (Kôji Yakusho), um homem permanentemente ocupado com seu trabalho, foi quem levou o Rifle para o Marrocos numa viajem de turismo e deu como presente de agradecimento ao seu guia marroquino de caçadas.

É marcante a forma como são retratadas neste filme diferentes manifestações culturais. Podemos focar em numerosas características que Iñárritu coloca em cena para marcar aquilo que há de conflituoso nas culturas, tal como a impaciência dos turistas europeus ocupantes do ônibus atingido por um tiro e indispostos a continuar numa cidadezinha perdida no Marrocos, a comemoração nupcial mexicana e o espírito desconfiado das crianças americanas, a suspeita dos policiais na fronteira americana e o medo dos imigrantes, a difícil socialização de uma adolescente com deficiência auditiva numa sociedade marcada em sua essência pela comunicação, o adolescente marroquino que se masturba vendo a irmã se exibindo nua, a atitude de Susan em tomar Coca-Cola quente por desconfiança da proveniência do gelo e etc... Detalhes que passam despercebidos, mas que marcam uma sociedade fundada em pré-conceitos.

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Copying Beethoven. Dir. Agnieszka Holland. 2006.

Há tempos não me arrepiava no cinema. Acho que a última vez foi no ano passado enquanto assistia Crianças Invisíveis. A emoção provocado pelo filme O Segredo de Beethoven se deve tão somente a trilha sonora que comove e sensibiliza. A nona sinfonia é o ápice de todo o filme, e talvez também da vida desse gênio da música erudita. No fim de sua execução Beethoven (Ed Harris), praticamente surdo, é incapaz de ouvir o delírio do público sem antes ser tocado por sua aprendiz para virar-se e contemplar sua glória.

O roteiro e as interpretações não são a grande chamada do filme, são na verdade um tanto fracas. Exceto Diane Kruger que interpreta a aprendiz e copista de Beethoven Anna Holtz. Ela tem um convívio problemático com seu mestre que já vem enfrentando problemas de surdez e se comporta de forma arrogante e irascível. No entanto ele percebe o talento da jovem e estima por ela um carinho especial. Na noite do concerto de estréia da nona sinfonia Bethoven precisa dela para auxiliá-lo na contagem dos compassos e nas mudanças de movimentos da composição.

Li um crítico de cinema perguntar: O que Mozart tem que Beethoven ainda não tem? Resposta: Um bom filme. Bom... essa colocação só me deixou curioso para assistir Amadeus, uma cinebiografia, pelo que dizem, perfeita de Mozart.

Assista o Trailer: