terça-feira, 29 de maio de 2007

Code Inconnu. Dir. Michael Haneke. 2000.


Quando conhecemos o potencial de um grande diretor vamos ao cinema esperando sua superação própria e aumentamos nosso rigor em formular juízos. “Código Desconhecido” é um filme que mostra toda a qualidade do diretor alemão Michael Haneke, que conhecemos outrora pelo filme “La Pianiste” (2001).

O roteiro apresenta uma fragmentação substancial, no entanto, o filme não fica confuso por conta disso; coisa muito difícil de ocorrer com filmes multiplots. A composição da narrativa tem três eixos, três contos que acontecem em simultâneo e encontram uma “esquina parisiense” onde os três focos narrativos convergem. O primeiro conto é composto por Anne Laurent, brilhantemente interpretada por Juliette Binoche, seu namorado (Thierry Neuvic), um fotógrafo de guerra, seu sogro e Jean, seu genro; o segundo por Maria (Luminita Gheorghiu), uma imigrante romena sem teto que pede esmolas nas esquinas; e finalmente, o terceiro conto é composto por Amadou (Ona Lu Yenke), filho de um professor de surdos-mudos e de descendência africana.

Haneke optou que o ponto narrativo de convergência entre as três narrativas fosse abrupto e violento, surgido ao acaso. Enquanto Maria, sentada numa esquina, pede esmolas, o jovem Jean (Alexandre Hamidi), mostra todo o seu desprezo amassando um pedaço de papel e jogando sobre ela. A reação de Maria é a mesma que ela tem ao perceber que o Sol, assim como ontem, nasceu hoje, como se receber papeis amassados fosse algo habitual. Em sentido oposto entra em cena o jovem negro Amadou que agarra Jean pelo pescoço e o obriga a pedir desculpas. A cena é tensa e se finaliza com a polícia levando Amadou para a delegacia. No decorrer do filme os três contos voltam a se desenvolver de forma independente, mas o espectador pode perceber nitidamente as seqüelas de uma sociedade sectária fundada no preconceito.

A composição dos personagens é outro ponto que salta aos olhos nesse filme. A mais complexa é Anne Laurent, uma jovem atriz que busca uma colocação respeitável no circuito da fama. Ela atravessa sérias crises profissionais e amorosas. Em uma cena, após brigar com o namorado no supermercado, ela diz ter feito um aborto enquanto ele viajava, coisa que nem o namorado nem o espectador poderá saber se realmente é verdade. Enfim, encontramos personagens que comungam essencialmente nas incertezas com relação à suas próprias vidas. Embora sejam histórias paralelas e seus personagens sejam independentes uns dos outros, eles encontram pelo caminho um “código desconhecido” que lhes une num instante de suas vidas e deixam marcas inconscientes.

Veja o Trailer: