

O convívio entre Mauro e Shlomo não é nada fácil, a aspereza de velho e a revolta do menino que não entende a partida dos pais geram uma relação crítica e conflituosa entre os dois. Mauro deve aceitar os complexos hábitos de um judeu arcado pelo tempo, Shlomo, por sua vez, deve compreender a angústia pela qual passa o menino, que teme não ver mais os pais e não entende o que acontece.
Em Mauro, a esperança do regresso dos pais se mistura e se confunde com a esperança de ver a seleção brasileira campeã na copa do mundo de futebol de 1970. Um sentimento particular cindido com um sentimento coletivo. O garoto deve se adaptar a uma nova vida, novos amigos, uma nova casa... Seus ouvidos se aguçam na percepção de qualquer veículo que passa na rua da casa onde ele está, sempre na esperança que o mesmo fusca azul no qual chegou, o leve novamente junto para com seus pais.
Cão Hamburger, conhecido por dirigir o seriado infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, mostra, com refinada sensibilidade, a visão de uma criança que vive no interior da fase mais cruel da ditadura militar e sente, de forma direta, suas conseqüências na pele sem mesmo saber o que está passando com seu país. Mostrando a dor real de um menino, a ausência dos pais, “O ano que meus pais saíram de férias” é um filme que tem uma abordagem diferente desse tema tão difícil, a ditadura militar, e que já é quase um clichê nesse ano em filmes como “Zuzu Angel” e “Cinemas, Aspirinas® e urubus”, esse último com seu mérito reconhecido. Cão Hamburger retratou a ditadura de uma forma original, dentro do imaginário de um garoto.