segunda-feira, 20 de novembro de 2006

O ano que meus pais saíram de férias. Dir. Cão Hamburger. 2006


A ditadura militar brasileira está em seu ápice. É 1970 e o pequeno Mauro (Michel Joelsas), um mineirinho de 12 anos, vê-se diante de uma nova situação que exige dele um amadurecimento rápido e necessário. Os pais de Mauro, Bia (Simone Spoladore) e Daniel (Eduardo Moreira), por manifestarem-se politicamente na esquerda, são obrigados a fugir do país e deixam o filho em frente a casa do avô paterno, Mótel (Paulo Autran). No entanto, horas antes da chegado do menino, Mótel morre de um ataque cardíaco e Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu tradicionalista e arrogante, pega o menino para criar em seu apartamento.

O convívio entre Mauro e Shlomo não é nada fácil, a aspereza de velho e a revolta do menino que não entende a partida dos pais geram uma relação crítica e conflituosa entre os dois. Mauro deve aceitar os complexos hábitos de um judeu arcado pelo tempo, Shlomo, por sua vez, deve compreender a angústia pela qual passa o menino, que teme não ver mais os pais e não entende o que acontece.

Em Mauro, a esperança do regresso dos pais se mistura e se confunde com a esperança de ver a seleção brasileira campeã na copa do mundo de futebol de 1970. Um sentimento particular cindido com um sentimento coletivo. O garoto deve se adaptar a uma nova vida, novos amigos, uma nova casa... Seus ouvidos se aguçam na percepção de qualquer veículo que passa na rua da casa onde ele está, sempre na esperança que o mesmo fusca azul no qual chegou, o leve novamente junto para com seus pais.

Cão Hamburger, conhecido por dirigir o seriado infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, mostra, com refinada sensibilidade, a visão de uma criança que vive no interior da fase mais cruel da ditadura militar e sente, de forma direta, suas conseqüências na pele sem mesmo saber o que está passando com seu país. Mostrando a dor real de um menino, a ausência dos pais, “O ano que meus pais saíram de férias” é um filme que tem uma abordagem diferente desse tema tão difícil, a ditadura militar, e que já é quase um clichê nesse ano em filmes como “Zuzu Angel” e “Cinemas, Aspirinas® e urubus”, esse último com seu mérito reconhecido. Cão Hamburger retratou a ditadura de uma forma original, dentro do imaginário de um garoto.

Confira o trailer:

sábado, 18 de novembro de 2006

Volver. Dir. Almodóvar . 2006


Só um grande diretor pode fazer uma junção perfeita, considerada por tantos impossível, entre drama e comédia. Volver é um filme, para aqueles que gostam de cinema, imperdível neste ano. Fatos chocantes e grotescos se mesclam com graça e descontração. Raimunda (Penélope Cruz) é uma mulher jovem, bonita e trabalhadora. Ela e sua irmã Sole (Lola Dueñas) perderam os pais num incêndio quando pequenas numa aldeia em La Mancha e foram para o subúrbio de Madri ganhar a vida. Sole é cabeleireira e vive sozinha, pois seu marido fugiu com uma de suas clientes e nunca mais mandou notícias. Raimunda tem uma filha e um marido desempregado e por essa razão acumula trabalhos esporádicos. Como se não bastasse a difícil vida na periferia de Madri, Raimunda não contava com o assassinato de seu marido Paco (Antonio de la Torre) por sua filha, Paula (Yohana Cobo), que se defendia de um estupro do próprio pai adotivo. Almodóvar mostra assim uma história cíclica, pois Paula é, biologicamente, filha e irmã de sua mãe, ela é fruto de um assédio de seu próprio avô.

A beleza do filme está nos detalhes, na composição de elementos culturais no decorrer da narrativa. Diante de uma realidade repleta de problemas Raimunda se reveste de vigor e energia para tomar conta de um restaurante de beira de estrada e conta, para isso, com a ajuda incondicional de duas amigas, aquilo que uns diriam ser providência divina, Almodóvar fez parecer surgir naturalmente através da pura amizade, sem que fosse preciso que um feixe de luz surgisse por entre as nuvens e iluminassem a protagonista.

O cômico aparece na figura do fantasma de Irene (Carmem Maura), que literalmente toma carona no carro de Sole. A mescla entre sonho e realidade, razão e loucura, confunde o expectador que em determinados momentos se identifica com o espanto de Sole que vê sua mãe retornar dos mortos, mas, de fato, ela nunca morreu. Rondando como um fantasma acha graça ao perceber a vantagem de viver num meio onde as pessoas são tão supersticiosas.

Volver é um filme que mostra o retorno de seus personagens as suas origens. Personagens que se mantiveram tanto tempo numa inércia corrosiva que os tornam incapazes de compreender suas vidas e pensar suas questões. A volta de Raimunda chega em seu ápice quando ela canta a música tema “Volver” Após tantos anos sem cantar canção alguma...

Site oficial: www.sonyclassics.com/volver/

Confira uma cena do filme:



Veja o Trailler