quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

C.R.A.Z.Y. Dir. Jean-Marc Vallée. 2005.

Zachary (Marc-André Grondin) nasceu no dia 25 de Dezembro de 1960 e sua mãe (Danielle Proulx) acredita que ele, por ter nascido na data que marca liturgicamente o aniversário de Jesus Cristo, tem algum “dom” divino, um suposto poder sobrenatural de cura. Afora todas as superstições colocadas, desde a infância, na sua cabeça por sua mãe, Zachary percebe em sua vida muitas diferenças na sua sexualidade em relação aos outros meninos de sua idade. Sendo o quarto filhos de cinco irmãos, não encontra espaço para viver uma experiência livre de amadurecimento e de formação de seu próprio caráter, pois um ranço de dogmatismo moral rege a opinião dos membros de sua casa.

A sinceridade da descoberta sexual de Zachary é mostrada de uma forma muito natural pelo diretor canadense Jean-Marc Vallée. Em meio aos conflitos familiares, os preconceitos de seu pai (Michel Côté), a proteção de sua mãe e os inconvenientes atritos com seus irmãos, Zachary se afirma na sua busca de identidade. A trilha sonora do filme auxilia o espectador a acompanhar esse movimento do personagem que migra de uma rigidez moral e uma ortodoxia religiosa representada por seu pai e por sua mãe para uma zona obscura de formação de sua subjetividade, porém livre.

C.R.A.Z.Y é um filme com um rítimo incrível. Cores fortes, diálogos rápidos e precisos, cenas econômicas e personagens dinâmicos fazem o filme ser bastante convencional, porém dotado de uma delicadeza, um cuidado, que tornam o drama do processo de subjetivação de Zachary bastante envolvente e familiar. Para o termo “convencional” que usei aqui, resgato uma frase do próprio Zachary: É muito difícil ser convencional. Porque é muito difícil ser aceito, isto é, verdadeiramente aceito. É muito difícil ter falhas. Ser perfeito não é esforço nenhum – e quem não quer se esforçar é viadinho.


Site oficial do filme

Assista ao Trailler:


segunda-feira, 20 de novembro de 2006

O ano que meus pais saíram de férias. Dir. Cão Hamburger. 2006


A ditadura militar brasileira está em seu ápice. É 1970 e o pequeno Mauro (Michel Joelsas), um mineirinho de 12 anos, vê-se diante de uma nova situação que exige dele um amadurecimento rápido e necessário. Os pais de Mauro, Bia (Simone Spoladore) e Daniel (Eduardo Moreira), por manifestarem-se politicamente na esquerda, são obrigados a fugir do país e deixam o filho em frente a casa do avô paterno, Mótel (Paulo Autran). No entanto, horas antes da chegado do menino, Mótel morre de um ataque cardíaco e Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu tradicionalista e arrogante, pega o menino para criar em seu apartamento.

O convívio entre Mauro e Shlomo não é nada fácil, a aspereza de velho e a revolta do menino que não entende a partida dos pais geram uma relação crítica e conflituosa entre os dois. Mauro deve aceitar os complexos hábitos de um judeu arcado pelo tempo, Shlomo, por sua vez, deve compreender a angústia pela qual passa o menino, que teme não ver mais os pais e não entende o que acontece.

Em Mauro, a esperança do regresso dos pais se mistura e se confunde com a esperança de ver a seleção brasileira campeã na copa do mundo de futebol de 1970. Um sentimento particular cindido com um sentimento coletivo. O garoto deve se adaptar a uma nova vida, novos amigos, uma nova casa... Seus ouvidos se aguçam na percepção de qualquer veículo que passa na rua da casa onde ele está, sempre na esperança que o mesmo fusca azul no qual chegou, o leve novamente junto para com seus pais.

Cão Hamburger, conhecido por dirigir o seriado infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, mostra, com refinada sensibilidade, a visão de uma criança que vive no interior da fase mais cruel da ditadura militar e sente, de forma direta, suas conseqüências na pele sem mesmo saber o que está passando com seu país. Mostrando a dor real de um menino, a ausência dos pais, “O ano que meus pais saíram de férias” é um filme que tem uma abordagem diferente desse tema tão difícil, a ditadura militar, e que já é quase um clichê nesse ano em filmes como “Zuzu Angel” e “Cinemas, Aspirinas® e urubus”, esse último com seu mérito reconhecido. Cão Hamburger retratou a ditadura de uma forma original, dentro do imaginário de um garoto.

Confira o trailer:

sábado, 18 de novembro de 2006

Volver. Dir. Almodóvar . 2006


Só um grande diretor pode fazer uma junção perfeita, considerada por tantos impossível, entre drama e comédia. Volver é um filme, para aqueles que gostam de cinema, imperdível neste ano. Fatos chocantes e grotescos se mesclam com graça e descontração. Raimunda (Penélope Cruz) é uma mulher jovem, bonita e trabalhadora. Ela e sua irmã Sole (Lola Dueñas) perderam os pais num incêndio quando pequenas numa aldeia em La Mancha e foram para o subúrbio de Madri ganhar a vida. Sole é cabeleireira e vive sozinha, pois seu marido fugiu com uma de suas clientes e nunca mais mandou notícias. Raimunda tem uma filha e um marido desempregado e por essa razão acumula trabalhos esporádicos. Como se não bastasse a difícil vida na periferia de Madri, Raimunda não contava com o assassinato de seu marido Paco (Antonio de la Torre) por sua filha, Paula (Yohana Cobo), que se defendia de um estupro do próprio pai adotivo. Almodóvar mostra assim uma história cíclica, pois Paula é, biologicamente, filha e irmã de sua mãe, ela é fruto de um assédio de seu próprio avô.

A beleza do filme está nos detalhes, na composição de elementos culturais no decorrer da narrativa. Diante de uma realidade repleta de problemas Raimunda se reveste de vigor e energia para tomar conta de um restaurante de beira de estrada e conta, para isso, com a ajuda incondicional de duas amigas, aquilo que uns diriam ser providência divina, Almodóvar fez parecer surgir naturalmente através da pura amizade, sem que fosse preciso que um feixe de luz surgisse por entre as nuvens e iluminassem a protagonista.

O cômico aparece na figura do fantasma de Irene (Carmem Maura), que literalmente toma carona no carro de Sole. A mescla entre sonho e realidade, razão e loucura, confunde o expectador que em determinados momentos se identifica com o espanto de Sole que vê sua mãe retornar dos mortos, mas, de fato, ela nunca morreu. Rondando como um fantasma acha graça ao perceber a vantagem de viver num meio onde as pessoas são tão supersticiosas.

Volver é um filme que mostra o retorno de seus personagens as suas origens. Personagens que se mantiveram tanto tempo numa inércia corrosiva que os tornam incapazes de compreender suas vidas e pensar suas questões. A volta de Raimunda chega em seu ápice quando ela canta a música tema “Volver” Após tantos anos sem cantar canção alguma...

Site oficial: www.sonyclassics.com/volver/

Confira uma cena do filme:



Veja o Trailler



sexta-feira, 27 de outubro de 2006

The Unbearable Lightness of Being. Dir. Philip Kaufman. 1988.

Inspirado no livro “The Unbearable Lightness of Being ”, lançado em 1984 pelo escritor Milan Kundera , o diretor Philip Kaufman, produz para o cinema, em 1988, uma maravilhosa obra de arte com talentosos atores:Juliette Binoche, Daniel Day-Lewis e Lena Olin

Escolhas, medo e angústia. Num mundo onde a realidade está completamente sensível ao nosso poder de fazer livremente escolhas e nosso vir-a-ser cada vez mais solúvel em nós mesmos, a realidade, com uma capacidade devoradora, lança Tereza (Juliette Binoche) num oceano de angústia e insegurança. Tereza está loucamente apaixonada por Tomas (Daniel Day-Lewis), um médico que com estrema facilidade, talvez por hábito do ofício, diz para todas as mulheres que cruzam seu caminho: Take off your clothes. Por ele Tereza larga toda sua vida, sua família e seu trabalho e vai a procura de Tomas, batendo na porta de seu apartamento e entregando-se completamente.

O contraste entre a leveza com que Tomas leva a sua vida, de forma descomprometida e libidinosa e o comportamento de Tereza com sua forma infantil de buscar alguma segurança e algo de sólido na vida fazem do filme um palco de tensões opostas. Tereza sente inveja de Tomas, gostaria, no fundo de sua alma ser como ele, mas não consegue. Tomas, apesar de tudo, ama Tereza, mas não consegue deixá-la segura disso.

A leveza da liberdade, sua facilidade e a variedade de opções que ela coloca no caminho de todo homem abrem um leque tão extenso e, ao mesmo tempo, irreversível, que a vida se torna pesada e se não sabemos lidar bem com isso somos abatidos pela angústia e atormentados pelo medo e insegurança.

domingo, 15 de outubro de 2006

Odisséia de filmes Espaço Unibanco - 07/10/2006

Uma noite de sexta-feira chuvosa. Sono e cansaço não foram o bastante para derrubar meu ânimo. Do outro lado do fronte desta guerra, a guerra para me fazer dormir, estava o interesse por três filmes fantásticos. Não havia linha alguma que os ligavam. Eram completamente independentes um do outro. Talvez, uma linha que possivelmente poderia os ligar é o aumento do grau de dramaticidade.

O primeiro foi uma animação, Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll (2006), onde os personagens de Angeli cansados de um mundo materialista e cada vez mais entregue ao individualismo tomam a iniciativa de lançar uma banda de Rock. Gordos e carecas não fazem tanto sucesso como gostariam e começam a contradizer seus ideais.




O segundo filme foi Les Chevaliers Du Ciel (2005), do diretor francês Gérard Pirès. A trama consistia em operações secretas no interior da Força aérea francesa. Muita ação e mulheres bonitas. É bom para prender a atenção e não fazer dormir, pois já era 3:00 da manhã.





O terceiro filme, esse sim, foi muito interessante, Crónica de una Fuga (2006) do diretor uruguaio Adrián Caetano. O filme consiste em mostrar a ditadura das décadas de 60/70 na Argentina em que uma mansão é controlada por oficiais da polícia para prender, torturar e executar presos políticos. É um filme extremamente chocante que nos faz refletir sobre virtudes como lealdade, justiça e coragem.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Da esperança ao desespero: Dilemas de uma democracia inacabada.

Em 2002, na campanha para a presidência da república, o slogan da campanha do presidente Lula era “A esperança vencerá o medo”. A esperança era prefigurada na idéia de mudança, na idéia do novo, no entanto, ao mesmo tempo, essas mesmas idéias geravam em si o medo. Na figura de Lula, o candidato da oposição, era sinalizada a mudança que geravam duas paixões simetricamente opostas no eleitorado, uns eram tomados pelo medo do pior e outros pela esperança do melhor. O fato ocorrido é que da oscilação entre o medo e a esperança no cenário eleitoral brasileiro da campanha de 2002 a esperança venceu.

A esperança venceu há quatro anos através da confiança do povo depositada na eleição do presidente Lula, mas agora, podemos dizer que na melhor das hipóteses, sendo muito otimistas, parece que os brasileiros terão que esperar ainda mais sem, ao menos agora, vislumbrar rastros de mudanças legítimas e realmente significativas. A mudança esperada e pela qual Lula foi eleito não ocorreu de fato. Pelo contrário, Lula ajudou a reforçar a estrutura contra-democrática do Estado brasileiro, mantendo o arcabouço da centralização do poder em que todas as estruturas de políticas públicas, de legalidade e de tributos são mantidas de forma autoritária ainda num molde do Brasil imperial que só as oligarquias favorece. Houve no governo Lula atos medicativos, quase que exclusivamente emergenciais, mas não mudanças as quais tínhamos esperança que ocorressem. Ao contrário, o fato de um partido de esquerda ter chegado ao poder foi possibilitado pelo agenciamento de alianças partidárias bizarras que, como um efeito, gerou um quadro corruptivo não muito diferente de governos passados, reforçando ainda mais a opinião de que mudança alguma ocorreu com a eleição de Lula.

Hoje um desespero irrequieto toma o lugar da esperança de quatro anos atrás. Temos nesse segundo turno que eleger o “menos pior”. É desesperador que o debate do “ruim” contra o “menos mal” fique restrito a acusações, a dossiês, a vestidos de grife, a maletas e cuecas de dinheiro. Cada candidato se preocupa em dar mais razões pelas quais o outro, seu adversário político, não deve ser eleito, razões pelas quais ele não deve chegar ou se manter no poder. Ora, que democracia é essa? A democracia pressupõe liberdade para com ela escolher um candidato pelas suas convicções e não, tão somente, pela falta de opção. Qual a convicção de Lula? E de Alkimin? A palavra mais repetida durante toda a campanha foi “Ética”, utilizada por ambos os lados. Essa palavra foi tão usada que ironicamente se corrompeu e ficou vazia de significação. O que é ética? Qual dos dois candidatos sabe o que essa palavra realmente significa?

A situação se torna ainda mais desesperadora quando olhamos o perfil de alguns dos deputados federais mais votados nesse ano. Maluf, Clodovil, Celso Russomano, Éneias Carneiro e Frank Aguiar! Sem contar alguns figurões intimamente ligados aos fatos recentes de corrupção. O que isso significa? O que devemos esperar desse cenário desesperador da política brasileira?

Este post foi postado tambem no blog "A voz do povo"

sábado, 30 de setembro de 2006

Blog "A VOZ DO POVO"

Agora escrevo tambem no blog "A voz do povo". Confira aqui um post que escrevi para eles seguida de uma interessante discussão.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Caros leitores

A situação política brasileira, já bem conhecida, sempre foi caótica. Nos momentos de disputa eleitoral as dissonâncias ficam mais nítidas e podemos ver que o problema está na base, no voto. Muitas mudanças já foram feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral para deixar as campanhas mais transparentes, no entanto, muito ainda falta ser feito. Os programas gratuitos eleitorais transmitidos nos canais de televisão mais parecem “propagandas de sabonetes”, mostrando a aparência de cada candidato, enquanto as propostas de governo, aquilo que realmente interessa, é deixado em segundo plano.

A eleição no Brasil é nesse Domingo, dia 01 de Outubro, e muita gente não sabe direito em quem votar. A população não conhece os seus candidatos à representação presidencial. A realidade é que não há muita opção, ou melhor, não apareceu nenhuma opção diferente, pois faltou, durante toda a campanha, debate e diálogo entre os candidatos. Ontem, 28 de Setembro, o candidato para a reeleição, Lula, não compareceu ao debate realizado pela maior rede de comunicação brasileira, a Rede Globo. Lula tem nas pesquisas por volta de 48% das intenções de votos e há possibilidade de que não haja segundo turno nas eleições. Isso é bom para o Brasil?

Particularmente penso que não! Sem debate não há democracia. Por isso espero que tenhamos um segundo turno e, por conseqüência, tenhamos oportunidade para um debate de verdade, o confronto entre os dois candidatos que sobrarem e que possamos distinguir, de forma mais nítida e clara, a diferença entre eles, diferença a qual, não parece haver nesse momento.
Coloquei aqui algumas entrevistas do YouTube postadas em sua grande parte pelo blog TV Aberta. O Jornal da Globo e a rede Record não são bons meios, ou meios muito confiáveis, para nos transmitir imparcialmente a voz de um candidato, mas foi o me é possível. Eu também estou muito indeciso, mas não podemos ignorar nosso país.

Candidato Luís Inácio Lula da Silva

Entrevista ao jornal da Globo
Parte I

Parte II

Entrevista da rede Record

Candidato Geraldo Alkimin

Entrevista ao Jornal da Globo
Parte I

Parte II

Entrevista da Rede Record

Candidato Cristóvam Buarque

Entrevista ao Jornal da Globo
Parte I

Parte II

Entrevista da Rede Record

Candidata Heloísa Helena

Entrevista do Jornal da Globo
Parte I

Parte II

Entrevista da Rede Record

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Wilbur Wants To Kill Himself. Dir. Lone Scherfig - 2003

Já disse para algumas pessoas que não gostei desse filme. O filme é muito bem feito, sua trilha sonora é perfeita e os personagens são envolventes. O fato é que eu não sei lidar com “o fim”, seja de qualquer coisa, seja uma despedida, seja qualquer coisa que acabou... que terminou... O fim para mim é insuportável!

O filme “Meu Irmão Quer Se Matar” tem exatamente “o fim” como temática. Seu núcleo gira em torno de Wilbur (Jamie Sives) que busca incessantemente se matar. Harbor (Adrian Rawlins) é um homem bondoso que passa sua vida inteira tentando cuidar de Wilbur, seu irmão mais novo, salvando-o sempre de seus ataques suicidas. Eles cuidam de um sebo herdado do pai já falecido. É nesse sebo que eles conhecem Alice (Shirley Henderson), que entra na loja acompanhada de sua jovem filha Mary (Lisa McKinlay). Alice é faxineira num hospital das redondezas e vende os livros que os pacientes deixam nos quartos à medida que são desocupados. Harbour apaixona-se por Alice, fazendo com que os quatro vivam cada vez mais próximos.

A diretora Lone Scherfig consegue lidar de uma forma bem humorada com um tema muito delicado: A morte. Seu filmeItaliano para iniciantes (2000) foi um dos primeiros a levar o selo Dogma 95, movimento dinamarquês de regras rígidas que extirpa recursos técnicos que potencializam a ilusão do cinema e, de acordo com o manifesto, massificam a produção da arte, enganando a audiência. Com “Meu Irmão Quer Se Matar” Lone Scherfig abandona a maioria dos princípios do Dogma 95, mas, embora tenha fugido ao Dogma, mostra que aprendeu algumas lições: estéticamente o filme é impecável.

A história dessa estranha família é curiosa. Em tempos que o cinema é produzido para tirar uma reação imediata do público, seja de riso, seja de repulsa, seja de tristeza. O filme “Meu Irmão Quer Se Matar” não é assim. Nada está dado e sempre é bom duvidar da sua primeira impressão. A complexidade da vida em contraste com a simplicidade das pessoas é o grande centro da história. Os personagens são simples, mas escondem elementos que não são claros a primeira vista. A genialidade de Lone Scherfig está em ser absolutamente imparcial e, acima de tudo, em deixar nas mãos do público a interpretação dos fatos e o entendimento dos personagens.

Assista o Trailler:


terça-feira, 19 de setembro de 2006

Assistir ou não assistir? Eis a questão!

Se alguém souber de algo que esteja passando no cinema e realmente vale a pena assisitir, por favor, me avisem... Não consigo, definitivamente, achar nada de bom. Será que aquele filme "Obrigado por fumar" merece ser assistido?

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Dancer in the Dark. Dir. Lars Von Trier. 2000

1964, Estados Unidos. Uma mulher em terras estranhas em busca de uma vida melhor. Vítima de uma doença incurável que a leva progressivamente à cegueira, Selma (Bjork) não desiste mesmo assim, de trabalhar, com o objetivo de, com o dinheiro, prover a cura para a doença que seu filho certamente herdará.

A interpretação de Bjork é brilhante. Sua voz e seu carisma dão à personagem Selma uma profundidade e um espírito lúdico que facilmente acomete o público à uma familiaridade inevitável. A frieza e o distanciamento do diretor Lars Von Trier, já aqui comentado em Dogville, parece casar-se perfeitamente com o encanto da personagem representada por Bjork. A simplicidade dos fatos que se desenvolvem na narrativa e das pessoas que se apresentam em cena retratam uma realidade bucólica, porém, cruel. Esse é o ponto que Trier sempre insiste em seus filmes.

A grande questão do filme é: Pode-se ser inocente de um assassinato a sangue frio? Selma mata um policial, seu vizinho, após ir à casa dele pegar o dinheiro que ele havia roubado dela anteriormente. Envergonhado do que fez, ele pede para que ela o mate. Selma, confusa e sem plena visão do que ocorre, o mata com tiros, ao que me parece, e essa é uma interpretação muito particular, de misericórdia.

O dinheiro roubado pelo policial era fruto de anos de trabalho de Selma para pagar uma cirurgia para seu filho. A tal doença é incurável, mas Selma mantém em sua mente essa fantasia pagando com sua vida numa forca norte americana.

Um filme genial de Lars Von Trier. Qualidades humanas como a confiança e a sinceridade são colocadas em foco num cenário onde o “mal”, inerente das ações humanas, vitima os mais fracos.

Confira uma cena do filme:


terça-feira, 5 de setembro de 2006

L' auberge espagnole. Dir. Cédric Klapisch. 2002

Antes de “Bonecas russas”, já comentado aqui anteriormente, Xavier (Romain Duris) já havia começado sua aventura atrás de seu “eu” em “Albergue espanhol”. Com 25 anos, Xavier está terminando o curso de Economia. Com a oferta de um emprego, de um amigo de seu pai, no Ministério da Fazenda, Xavier precisa para assumir o posto saber a língua espanhola. Ele decide acabar seus estudos em Barcelona, para aprender a língua. Para isso vai ter que deixar Martine (Audrey Tatou), sua namorada há quatro anos. Ao chegar em Barcelona Xavier procura um apartamento no centro da cidade e acha um em que deve morar com sete estudantes, todos estrangeiros.

Tendo como cenário uma das cidades mais dinâmicas da Europa, Barcelona, “Albergue Espanhol” faz uma paródia com a diversidade cultural.

Xavier chega à Espanha totalmente despreparado - sem saber falar o idioma do local onde está. Entristecido por deixar a namorada na França, Xavier está confuso sobre quem é ou que laços pode criar nessa cidade estrangeira. Na busca de um lugar para ficar, ele acaba encontrando um casal francês recém-casado, um médico e sua solitária esposa, Anne Sophie, (Judith Godrèche) que lhe oferecem o sofá. Depois, encontra um lugar definitivo: um apartamento com sete estudantes de nacionalidades tão variadas quanto suas personalidades e sexualidade. Segundo Xavier, a multiplicidade de línguas faz lembrar o caos que existe em sua cabeça.

Xavier se vê, pela primeira vez, antes de “Bonecas Russas”, envolvido numa teia de mulheres: a namorada francesa Martine, que parece distante mesmo tendo vindo visitá-lo; sua melhor amiga lésbica no albergue e instrutora sexual, a belga Isabelle, que gostaria que Xavier fosse mulher; e a reprimida Anne Sophie, por quem Xavier sente um afeto que acaba desembocando num caso proibido. Esse problema foi melhor explorado no filme que ilustra os mesmos personagens cinco anos mais tarde...

Mesmo com corações partidos e olhos sendo abertos de formas inesperadas, e mesmo com o tumulto e a confusão reinando no apartamento, surge uma espécie de unidade a partir dos sonhos que seus habitantes têm em comum. Surge também a certeza que nenhum deles será igual depois das experiências que viveram no Albergue Espanhol. Agente nunca é o mesmo depois de conhecer alguém diferente...


Confira Xavier contando a história de seu primeiro beijo em Martine:

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Confira!

Achei um vídeo no You tube do filme "Amor em cinco tempos" de François Ozon. Confira... aqui

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

The hours. Dir Stephen Daldry. 2002

A angústia, a fraqueza, em suma, a dor de viver. Problemas fundamentais que transpassam a condição humana são trazidas no filme “As horas”, do diretor Stephen Daldry, retratando o percurso histórico de três distintas mulheres que têm suas histórias unificadas pelo peso da existência individual.

Nos três períodos diferentes vivem três distintas mulheres ligadas ao livro "Mrs. Dalloway". Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e pensamentos de suicídio. São retratados no filme seu impulso, psicótico, a literatura e suas crises numa vida que ela sente não pertencer mais a ela.

Em 1949 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. O mesmo problema é enfrentado: Que liberdade temos de se escolher a vida que se tem?

Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.

O filme “As horas” nos remete a reflexão sobre o sentido de nossas vidas em relação as pessoas que nos cercam. Até que ponto podemos viver nossas vidas exclusivamente para os outros? Até onde podemos ir para agradar alguém?

O personagem Richie Brown, escritor, agora com AIDS em fase terminal, faz algumas provocações à personagem Clarissa Vaughan, sua ex-amante e atual editora:

Richie Brown:

I'm not trying to say anything. I think I'm staying alive just to satisfy you.
I've stayed alive for you. But now you have to let me go.
Would you be angry if I died?

A grande questão é: Há como viver para si próprio? Por que temos necessidade de manter nossa existência para os outros? Por amor? Por carinho? E nós?

Confira o Trailler:


quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Caros leitores:

Por motivos que fogem de meu controle, talvez eu não poderei postar nesses dias. Pretendo voltar o quanto antes. Tenho vários filmes esperando por mim...

Saudações

sábado, 26 de agosto de 2006

A estréia do mês: o mais novo filme de Ozon – O tempo que resta.

Para quem não sabe, François Ozon se propôs a fazer uma trilogia cujo tema central é a morte, ou, sobre a angústia da perenidade da vida. Abordando a “morte do outro” em “Sous le Sable”, agora Ozon retrata de forma dramática a “a morte de si” em "Le temps qui reste" que estréia neste mês nos melhores cinemas do mundo. Não vejo a hora de poder assistir!!! ... Ah, e depois escrevo com mais detalhes após ver o filme de verdade...
Dizem que o último da trilogia será o mais chocante dos três, pois será sobre a morte de uma criança.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Teatro - OITO. Núcleo 53. 2005


A fugacidade do tempo e do espaço. O instante que escapa às mãos. O local que inebria o homem inserido nele. A peça OITO, dirigida por Antônio Januzelli e Juliana Jardim, nos lança a uma profunda reflexão sobre o “aqui e o agora” na arte dramática pós-moderna.

Cenas desconexas, sem uma aparente necessidade de “causa e efeito” nos remete à uma realidade sem explicação, sem razão de ser de seus fatos. O Tempo, o momento, se resume nele mesmo, sem remeter à nada que veio antes dele, e sem ser causa de nada após ele. A experiência com um tempo reduzido ao instante, ao agora, ao imediato, ao instantâneo, faz que a condição humana se limite a um “quebra-cabeça”. Cada segundo é um ato tão independente dos outros que às vezes se torna desconexo e antiquado.

O Espaço, o lugar, é vazio, insignificante. Pode ser interpretado como ilimitado, mas não infinito. A significação cabe tão somente aos atores. O personagem é o núcleo. A ele cabe toda expressão, toda força e pujança nas emoções, seja de medo e desespero, seja de esperança e segurança. Os oito personagens trazem para dentro do palco seus instantes, seus “aquis”, seus “agoras”, suas confusões e precipitações. A memória do passado é engolida pela velocidade com que o futuro chega para tornar-se, a seu turno, presente. O tempo trata de se esgotar como em uma ampulheta, e o personagem é sufocado pelo desespero causado pelo objeto não atingido, do sonho não alcançado, do projeto não realizado, do “não-ser” que persegue a consciência humana, fazendo com que os personagens do palco corram atrás de algo que não se define bem, algo que “em si” não é claro e distinto.

A condição pós-moderna, a experiência de um tempo e um espaço fragmentado, desconexo, sem, aparentemente, causalidade. Os instantes são, no plano da experiência, incausados e sempre se fica com a impressão de que são, também, inconclusos. A todo instante se espera aquilo que nos falta na relação com o mundo, que seja dado através do outro, de semelhante, mas a solidão, condição primordial do homem desamparado, daquele que vive catando os pedaços do “aqui e do agora” para tentar, em vão, entender a vida, é aquilo que há de mais certo e seguro. Numa realidade que não há nada de concreto e integro, o ser humano necessita juntar os pedaços de sua experiência com um mundo volúvel que constitui homens, também eles, volúveis.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Trois Couleurs: Bleu. Dir. Krzysztof Kielowski. 1993.


Além de nós mesmos, do que mais precisamos? O que sobra de nós quando perdemos aquilo de que nos servimos para apoiar nossas vidas? O que há de errado com a solidão? O filme “A liberdade é Azul”, do diretor Krzysztof Kielowski, nos orienta a responder tais questões.

Julie (Juliette Binoche), uma famosa modelo, sofre um acidente que é fatal para seu esposo, um renomado compositor erudito, e sua pequena filha. A dor da perda é insuportável para Julie, que passará, de agora em diante, por uma reavaliação pessoal. Ela não tem mais nada daquilo que tinha à segundos atrás; as pessoas que mais amava foram brutalmente arrancadas de seu lado. Quando ela volta à consciência após o acidente, vê, no hospital, pela TV, o funeral com o caixão de seu marido ao lado do de sua filha.

Sua vida entra em crise e ela percebe que deve recomeçar do nada, reconstruir a partir de escombros, a partir de entulhos... Não dá para simplesmente voltar a sua antiga casa e tentar deixar o tempo cuidar das feridas. Ela deve mudar de vida, de casa, de cidade, de hábitos. No entanto, a grande obra de seu esposo, uma canção pela unificação da Europa, a persegue, e Julie vê que necessita terminá-la. A mensagem central do filme é revelada por um simples flautista de rua, mas Julie não compreende bem, embora seja exatamente isso o que ela esteja vivendo: “Todos precisam se apegar a algo”.

Essa mensagem é espantosa. “A liberdade é Azul” nos diz que a solidão é sempre o maior inimigo do homem. Não importa o que seja, sempre o homem deve estar apegado a alguma coisa, a um sonho, a um objeto, a uma outra pessoa... Não importa o que seja. Isso retrata a incompletude humana, a insuficiência do ser humano a si mesmo.

O filme “A liberdade é Azul” é o primeiro filme do diretor Krzysztof pertencente a uma trilogia que se segue com “A igualdade é Branca” e “A fraternidade é Vermelha”, que constituem os ideais da revolução francesa. Não vejo a hora de ver esses outros dois!

Assista ao Trailer:


quarta-feira, 16 de agosto de 2006

5 x 2. Dir. François Ozon. 2005


Mais um brilhante filme do diretor francês François Ozon. “O amor em cinco tempos” tem o peculiar roteiro de ser mostrado de traz para frente. Do fim de um relacionamento rumo à sua origem, em direção àquilo que moveu pela primeira vez, o casal protagonista, a começar um relacionamento.O filme apresenta Marion (Valeria Bruni-Tedeschi) e Gilles (Stéphane Freiss) no dia em que eles assinam os papéis do divórcio. A partir desse ponto, o roteiro leva o espectador a conhecer os detalhes que formaram esse relacionamento: são cinco seqüências estrelados pelo casal.

Pode parecer no mínimo estranho que não percamos a curiosidade de ver um filme quando ele já começa pelo fim. O que nos mantém na poltrona do cinema é a motivação em descobrir o porquê que aquele casal que no fim se divorcia, e após o divórcio, transam numa cena de um “estupro concedido”, se chegaram, um dia, a se amar de verdade. A composição dos cinco atos, das cinco cenas ou fases do casal, são marcadas pela angústia, pelas mentiras recíprocas, pela incompatibilidade de gênero, pela fraqueza de Marion e pelo machismo de Gilles. É muito curioso que Ozon consiga transpor um drama muito pesado, que causa uma auto-avaliação em qualquer telespectador em seu relacionamento, em cenas que se revestem, às vezes, com a capa de uma comédia romântica. A festa de casamento, num clima totalmente familiar, é o mesmo cenário da primeira traição. Ozon não nasceu para fazer “contos de fada”, essa nunca foi sua intenção. Ozon sempre transporta para as películas fatos verdadeiros de pessoas verdadeiras.

O ranço das mentiras adormecidas, dos segredos calados, das palavras não ditas, do carinho não feito, do amor não anunciado, da ajuda não oferecida, das mágoas causadas, enfim, dos “maus entendidos” entendidos, é o caminho certo e seguro para a separação daquilo que não teve razão alguma para começar. O título “O amor em cinco tempos” sugere algo de universal, de imutável quanto à natureza daquilo que é chamado “amor”. O filme não é romântico e é ao mesmo tempo. Ozon retratou aquilo que é dito “amor” de forma verídica. O amor sempre começa pelo mesmo motivo e termina pelo mesmo motivo, a saber, o acaso. Eis a palavra que anula qualquer romantismo, o acaso... Pois o acaso é motivo suficiente tanto para começar, quanto para terminar.

Assita o Trailer