quinta-feira, 7 de junho de 2007

Things You Can Tell Just by Looking at Her. Dir. Rodrigo García. 2000.


Coisas Você Pode Dizer Só De Olhar Para Ela” é um filme intrigante. Disposto em cinco curtas que tratam da vida de cinco mulheres, que ao acaso, tem suas vidas, de uma forma ou de outra, influenciada entre si de uma maneira marcante e definitiva. O filme é um belo painel sobre a solidão feminina e a grande sacada de Rodrigo García está em mostrar cada personagem se fundindo dentro de um único gênero.

Seja a história da Dra. Elaine Keener (Glenn Close), ansiosa e angustiada à espera um telefonema que nunca acontece; seja a história da gerente de banco Rebecca (Holly Hunter) que aparentemente parece não trocar sua independência por nada, mas não se contenta em ser apenas uma amante que se descobre grávida e perdida; seja a história de Carol (Cameron Diaz) uma jovem atraente cega que se pergunta da razão de nenhum homem querer algo sério com ela; entre outras, todos esses fragmentos, são ricos de pequenos detalhes, o mais notável são as expressões faciais, os closes de câmera e a excelente atuação das atrizes.

Numa das cenas mais belas e significativas do filme, a cartomante Christine Taylor (Calista Flockhart) lê o destino da Dra. Elaine e seu discurso envolve o que a doutora é, o que ela pensa ser, o que ela finge ser, como ela é boa em fingir, o que ela espera, o que vai acontecer e o que ela sente. O surpreendente é que talvez esse diagnóstico particular de Elaine feito pela cartomante é aplicado à todas as outras mulheres que compõem o filme, até mesmo às personagens periféricas, como a sem teto Nancy (Penelope Allen) ou a namorada (Valeria Golino) da própria Christine que se encontra em fase terminal.

O filme lembra na sua intenção “The Hours”, embora este seja mais fragmentado. É bom considerar também os cinco títulos dos contos: "This is Dr. Keener", "Fantasies about Rebecca", "Love Waits For Kathy", "Goodnight Lilly, Goodnight Christine", "Someone For Rose", todos se completam e mostram uma unidade genérica composta por cada uma das personagens. Sutilezas femininas e emoções entaladas na garganta não faltam nesse filme.

Trailer

terça-feira, 5 de junho de 2007

La Tigre e la Neve. Dir. Roberto Benigni. 2005.



Não poderia um filme sobre um poeta começar de outra forma a não ser por meio de um sonho, e não é um sonho qualquer, mas o sonho que o une à mulher de sua vida. Sonho este que Attilio di Giovanni (Roberto Benigni) atualiza todas as noites onde quer que ele repouse. A cena é fabulosa, além da arquitetura do ambiente, Tom Waits se responsabiliza pela canção. Attilio di Giovanni sonha se casar com Vittoria (Nicoletta Braschi), que aparenta, na realidade, não ter qualquer interesse nele. No entanto, no sonho ela sempre o surpreende e não obstante os contratempos típicos de “sonho sem pé nem cabeça”, como o celular que toca ou o guarda que interfere por conta do carro mal estacionado, a cena não perde seu teor romântico, mas ao contrário, ganha uma fragrância lúdica própria de Benigni.


Attilio di Giovanni está longe de ser um daqueles tipos já bem conhecidos do cinema, aqueles figurões, como por exemplo, o “homem marlboro”, o “homem martini”, o “homem marcedes, bereta”, e por aí a fora. Attilio é um poeta por necessidade, ou melhor, por natureza. Explicando para suas filhas por que era poeta ele diz que precisava comunicar aos outros aquilo que ele sentia, da forma como sentia, dar o devido valor para aquelas coisas que tem esse valor. Talvez aqui possamos encontrar uma pista da razão pela qual um filme usa uma guerra tão recente apenas como um pano de fundo para uma comédia. Não é tratada durante toda a narrativa a questão do absurdo de um conflito armado ou a legitimidade de uma invasão política e econômica. Pelo contrário, Benigni quer deixar muito evidente que não é esse o objeto focal de suas câmeras, coisa que fica muito clara em uma cena em que Attilio e seu amigo Fuad (Jean Reno) contemplam a lua e o céu numa linda noite em Bagdá enquanto na periferia da imagem notamos dezenas de bombas sendo lançadas ao ar.


Informado que Vittoria foi ferida em Bagdá, Attilio imediatamente viaja para o oriente para cuidar dela. Inconsciente, Vittoria, numa cama de um hospital semi-destruído, não possui todos os medicamentos necessários para sobreviver e Attilio, mesmo sendo desesperançado pelo médico, atravessa Bagdá para com um último esforço salvar a vida de sua amada, que nem saberá quem a salvou. Os elementos românticos do filme não tiram sua originalidade e sempre se abre um espaço amplo para criar surpresas no espectador.

Veja o Trailer: