sábado, 15 de dezembro de 2007

Inland Empire. Dir. David Lynch. 2006


'Eu não sou quem você pensa!' Diz o esposo enquanto tenta estrangular sua mulher. Império dos sonhos de David Lynch está repleto de pontos de exclamação que vibram na mente do espectador. Um filme inteiramente gravado numa câmera digital Sony PD-150, tem a vantagem de possibilitar toda a flexibilidade que Lynch precisa para tornar o conjunto tempo/espaço da trama descontínuos, fragmentados, ao ponto da personagem principal dizer atônita: “Eu não sei o que veio antes ou depois. Não consigo distinguir o ontem do amanhã e isso está fodendo com a minha cabeça.”

A história é, em si mesma, pífia, banal e, teoricamente, sem grandes mistérios. O que torna o filme original é sua composição, como não poderia ser diferente quando se trata de David Lynch. Nikki Grace (Laura Dern) é uma atriz em baixa no mundo de Hollywood, mas vê a oportunidade de redenção de sua carreira quando é convidada para protagonizar um filme. No set de gravação entra em contato com um típico galã hollywoodiano com quem dividirá as cenas, o ator Kingsley Stewart (Jeremy Irons). O que ambos não sabiam é que o filme que almejam contracenar é um remake. Apartir desta descoberta dos protagonistas o filme começa tomar rumos espaço-temporais sinuosos. O fato do filme ser baseado numa lenda cigana e dos protagonistas da versão original terem sido assassinados de forma misteriosa assombra a fantasia dos nossos personagens. A ficção se funde com a realidade e se inicia o sonho. Não há controle do tempo, o ontem e o amanhã se tornam um misto confuso e indiscernível, o espaço é constituído por ambientes decadentes, periferias, moteis, casas suburbanas, e neste rodamoinho também o telespectador se torna refém de uma realidade que foge de si mesma, de um sonho que teima em não se concluir, de uma fantasia que beira ao caos.

A busca pela identidade, por um fundamento subjetivo, é inutil. a grande questão é que nunca se sabe bem quem se é. E pior, nunca se sabe quem é o outro. Não há lugar que reflita segurança nem tempo que soe o presente. É tudo líquido. Para Lynch, uma câmera desfocada mostra mais do que imagens nítidas e bem definidas. O indefinido é o modo próprio da substancialidade da trama. Se não se sabe quem se é, não se sabe, igualmente, até onde se pode ir ou o que se pode fazer.

Trailler

2 comentários:

Shirley Suely disse...

Realmente gostei!

Vitor Bustamante disse...

Acho o que o youtube zuou esse vídeo, tenta pôr esse no lugar: http://www.youtube.com/watch?v=_DlYCvxvPZY

Parece ser um filme que iria gostar muito da técnica usada. Nunca liguei para grande definições de imagem.

Por que você não tira nas configurações do blog o "Digite os caracteres exibidos na imagem acima" para ficar mais fácil comentar? Se der spam, você volta com isso. Mas no cab, não veio spam nenhum já faz alguns meses.