quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Teatro - OITO. Núcleo 53. 2005


A fugacidade do tempo e do espaço. O instante que escapa às mãos. O local que inebria o homem inserido nele. A peça OITO, dirigida por Antônio Januzelli e Juliana Jardim, nos lança a uma profunda reflexão sobre o “aqui e o agora” na arte dramática pós-moderna.

Cenas desconexas, sem uma aparente necessidade de “causa e efeito” nos remete à uma realidade sem explicação, sem razão de ser de seus fatos. O Tempo, o momento, se resume nele mesmo, sem remeter à nada que veio antes dele, e sem ser causa de nada após ele. A experiência com um tempo reduzido ao instante, ao agora, ao imediato, ao instantâneo, faz que a condição humana se limite a um “quebra-cabeça”. Cada segundo é um ato tão independente dos outros que às vezes se torna desconexo e antiquado.

O Espaço, o lugar, é vazio, insignificante. Pode ser interpretado como ilimitado, mas não infinito. A significação cabe tão somente aos atores. O personagem é o núcleo. A ele cabe toda expressão, toda força e pujança nas emoções, seja de medo e desespero, seja de esperança e segurança. Os oito personagens trazem para dentro do palco seus instantes, seus “aquis”, seus “agoras”, suas confusões e precipitações. A memória do passado é engolida pela velocidade com que o futuro chega para tornar-se, a seu turno, presente. O tempo trata de se esgotar como em uma ampulheta, e o personagem é sufocado pelo desespero causado pelo objeto não atingido, do sonho não alcançado, do projeto não realizado, do “não-ser” que persegue a consciência humana, fazendo com que os personagens do palco corram atrás de algo que não se define bem, algo que “em si” não é claro e distinto.

A condição pós-moderna, a experiência de um tempo e um espaço fragmentado, desconexo, sem, aparentemente, causalidade. Os instantes são, no plano da experiência, incausados e sempre se fica com a impressão de que são, também, inconclusos. A todo instante se espera aquilo que nos falta na relação com o mundo, que seja dado através do outro, de semelhante, mas a solidão, condição primordial do homem desamparado, daquele que vive catando os pedaços do “aqui e do agora” para tentar, em vão, entender a vida, é aquilo que há de mais certo e seguro. Numa realidade que não há nada de concreto e integro, o ser humano necessita juntar os pedaços de sua experiência com um mundo volúvel que constitui homens, também eles, volúveis.

2 comentários:

Valeria Elías disse...

me encanta los juegos del tiempo!! me encanta pensar en lo que es casual y lo que es causal! me interesan esas cosas del destino... me gustan los juegos de la vida, que son para bien :) me gusta haberte conocido y poder compartir Saludos Feli...

Felipe Silva disse...

Essa semana tem sido bem assim para mim... o tempo não ajuda nada para nos fazer entender as causas das coisas...