terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Closer. Dir. Mike Nichols. 2004.


Hello, stranger. – Assim começa o filme.

Uma fotógrafa, um jornalista, uma striper e um médico. Figuras já bem conhecidas das telas dos cinemas encontram sua originalidade na composição dessa obra tão singular. Closer, filme do diretor alemão Mike Nichols tem como objeto fundamental as relações humanas, suas formas, suas ambigüidades e contradições. Closer é um filme sobre o amor, todavia não pretende retratar o amor na sua áurea divina e redentora. A pretensão é investigar esse sentimento no seu modo mais inocente, ingênuo e humano: o amor como uma tragédia.

If you believe in love at first sight... You never stop looking.Uma chama fumegante, eis a condição humana. O filme mostra a esperança e o medo de mãos dadas do início ao fim, tal como irmãs gêmeas separadas no nascimento. Um nada as separa e evidencia sua oposição simétrica na oscilação das paixões. O sentimento é antes de tudo uma escolha, escolhe-se o sentir medo, ou o sentir esperança e é quando a esperança é escolhida que o amor ganha toda a sua potência, sua “vestimenta de desejo”, necessidade e perfeição. É a esperança que dá sentido a busca, a procura que não cessa, que condiciona o incondicionado, que dá sentido a pretensa intenção de alimentar a carência, de fundamentar o sujeito, preencher o nada.

Love is an accident... Waiting for happen.Nada mais casual do que a forma como Dan (Jude Law) e Alice (Natalie Portman) se conhecem no início da trama. “Hello stranger”, enunciado por Alice, marca o primeiro diálogo dos dois personagens que posteriormente serão tomados por um desejo inexplicável de um pelo outro. Todavia, como qualquer objeto de natureza acidental, o amor não foge a sua frágil circunstancialidade, e aquela necessidade que outrora tinha a aparência de ser essencial, como toda paixão, logo se desvela como um simples acessório, um mero objeto de ostentação e vaidade, algo dispensável, mas útil ao orgulho. Anna (Julia Roberts) e Larry (Clive Owen) também tem um encontro acidental que culmina num casamento cego e contaminado pela falsidade. Intimacy is a lie... We tell ourselves. O filme de Mike Nichols mostra numa óptica bastante nítida que as pessoas são como icebergs em que só podemos ter o conhecimento mínimo daquilo que está sobre o mar, mas a profundeza, aquilo que há de sólido no ser se mantém oculto até mesmo ao próprio sujeito.

Selecionei uma cena bastante significativa ao conjunto da obra e que se fecha perfeitamente como que sendo um curta metragem, tal é a força de sua unidade. Podemos observar nessa cena um Dan que experimenta uma incompletude, talvez advinda do previsível fracasso de sua obra literária, “O aquário”; vemos também a fraqueza emocional de uma Anna, a fotógrafa divorciada, e num segundo momento, uma Alice, a striper e a personagem mais aberta e sincera do filme fazendo um jogo aparentemente limpo com os dois:

Truth is a game... You play to win.Não há nada mais rendido às paixões do que um homem dentro de um jogo. A intenção não é outra além da vitória, e na busca dessa finalidade a maior ferramenta é o conhecimento e o apego às regras. Entretanto, quais são as regras da verdade? Qual é a regra do jogo das relações? O problema parece maior quando percebemos que a ignorância de tais regras provoca a falsa impressão de sua total ausência. O jogo parece então de “vale-tudo” onde a mentira não presta conta à verdade, elas se misturam e se confundem num carrossel de ilusões. De um simples jogo as relações, pela ausência de regras, passam a se tornar conflitos. A arma é o discurso e a sua periculosidade e agressividade ao outro é medido pela sua ortodoxia e pretensão de se tornar uma ideologia soberana sobre todas as atitudes.

Closer é um filme, definitivamente, sobre o amor.

Site oficial do filme

Trailer:

7 comentários:

Anônimo disse...

Feli que lindo esta el blog y muy buenas las ultimas recomendaciones!!!

sos todo un filosofo bloggero :-)



Feni

Felipe Silva disse...

olá Fernada!!!

Que bom que gostou!!! fico muito feliz com seu aval.


Besossss do Brasil

Feli ;)

Anônimo disse...

feli! tu blog se ve muy interesante, serio y prometedor... me gusta! esta ultima pelis la quiero ver!!! espero hacerlo pronto!!! besos

Felipe Silva disse...

Hum... que bom que dá para notar seriedade e promessas... Tive muito trabalho para opatar por um visual que mostrasse isso.

Bejos ;)

Anônimo disse...

Esse post ficou impecável na minha opinião. Adorei! Meus momentos preferidos foram: "Um nada as separa e evidencia sua oposição simétrica na oscilação das paixões". Tive que ler 3 vezes e adorei.

"A intenção não é outra além da vitória, e na busca dessa finalidade a maior ferramenta é o conhecimento e o apego às regras"

"...a ignorância de tais regras provoca a falsa impressão de sua total ausência"

Valeu, Felipe!

Anônimo disse...

Oi felipe! adoro Closer, apesar da hiper-realidade dolorida! Obrigado pela visita lá no blog. abraço!

Felipe Silva disse...

Comentário da Carolina:

O que quererá dizer perto demais?! Talvez....
O jogo perverso. A ausência de regras... Como se conseguissemos ultrapassar barreiras , mas com gritos, gemidos e todos os outros sentidos que ecoam em cada um de nós.
E depois o tal dito Amor.
Esse sentimento de que tanto se fala, mesmo sem palavras
Porque ninguém quer assumir que amar pode revelar um padrão.
Quem nunca se sentiu fora do padrão?! E quem disse que não ser padrão está errado? E quem disse que ser padrao nao esta correto?! E se existem limites, porque não quebrá-los? E se esses já existem por que nao permanecermos com ele?! E estar perto significa perto de nós ou de outros?
A história... essa... é a de muitos de nós. Ou de outros.Ou talvez se nao quisermos admitir ela pode ser só fictícia...a historia que alguem criou por nao poder vivencia-la.
Estaremos perto demais para nos perdermos de nós mesmos?
Na realidade todos nós desejamos saber a verdade.
Não podia ainda esquecer a música com que o filme abre e encerra os créditos. "The Blower's Daughter" interpretado por Damien Rice. Creio que a escolha não podia ser melhor e se há músicas que marcam filmes, esta é uma delas.
Beijos Nenem!!!